sábado, 8 de março de 2008

OpenXML: Filosofando sobre o Fast Track e o BRM...

OpenXML: Filosofando sobre o Fast Track e o BRM...

Venho estudando e acompanhando de perto o ODF desde 2003. E como
representante da IBM nos órgãos de padrões, como a ABNT, faço parte da
Comissão de Estudos que vem avaliando a proposta do OpenXML em se
tornar um padrão ISO.

Na minha opinião, um fato extremamente preocupante tem sido o processo
"acelerado", chamado de Fast Track no qual a imensa e complexa
especificação do OpenXML vem sendo debatido. Na semana passada
aconteceu uma reunião de cinco dias, o BRM, onde os mais de 1100
comentários, apresentados pelas diversas entidades de padronização
mundiais, (compactados dos 3522 originais) deveriam ser analisados. O
resultado não poderia ser diferente: mais de 80% dos comentários não
foram sequer avaliados. Como a proposta do BRM seria de avaliar a
especificação, debatendo os comentários e as sugestões de correção e
melhorias apresentadas pelo Ecma, é lógico e racional afirmar que o
resultado não foi positivo. Nenhuma reunião onde não se avalia 80% dos
itens propostos dificilmente poderia ser chamada de "um
sucesso"...Imaginem um hipotético projeto de software onde 80% dos
itens que deveriam ser analisados pelos usuários não o são....Quais
usuários aprovariam tal projeto? Portanto, o processo "acelerado" tem
se mostrado totalmente inadequado para avaliar uma proposta deste nível
de complexidade. E a pergunta que faço é: porque optou-se por um
processo tão acelerado? Porque não se adotou o processo normal, que
permitiria uma melhor análise e correção dos problemas?

Outro fato preocupante...Estamos caminhando cada vez mais rápido para
um mundo plano, onde o intercâmbio de informações eletrônicas é cada
vez maior. A Internet está se tornando o meio padrão de comunicação do
planeta. E isto só está sendo possível porque existe um padrão aberto e
reconhecido por todos, sejam estes usuários dos EUA, Brasil, China ou
Uganda, que é o TCP/IP.

Para mim, interoperabilidade passa a ser a palavra chave em um mundo
cada vez mais interconectado. Interoperabilidade é a base para o
compartilhamento de informações e conhecimento. Quando esta
interoperabilidade é prejudicada e até impedida pela incompatibilidade
entre os formatos dos arquivos, temos um grande problema. Diante da
crescente digitalização de informações, precisamos agora de um padrão
TCP/IP para documentos.

E já existe tal padrão, que é o ODF, que desde maio de 2006 é um padrão
ISO. Uma proposta de um segundo padrão não contribui em nada para
aumentar a interoperabilidade, tão necessária a este mundo plano. Basta
ver os problemas que teríamos se tivessemos dois TCP/IP...

Vamos imaginar um cenário hipotético: alguns países adotam o ODF como
seu padrão de formato de documentos e não aprovam o OpenXML por não ser
um padrão ISO. Outros adotam o OpenXML e em princípio não usariam o
ODF. Temos então um problema: ao enviar documentos de um país para
outro (entre empresas destes países), teríamos problemas de conversão
de formatos. A interoperabilidade plena estaria prejudicada. Negócios
internacionais seriam prejudicados...

Ora, se avaliarmos o OpenXML vemos que pelo menos uns 90% a 95% de sua
funcionalidade está incorporada no padrão ODF e os 5 a 10 % ausentes
relacionam-se com características específicas de um único software, o
Office da Microsoft. Imagino que todo o esforço, tempo e dinheiro
investido por dezenas de países em analisar o OpenXML fossem
canalizados para refinar o ODF, inserindo novas funcionalidades e
harmonizando-o com o OpenXML, seria muito mais útil e produtivo para a
sociedade.


Fonte: blog Cezar Taurion - IBM --
http://www.softwarelivre.org/news/10904


--
Linux 2.6.24: Arr Matey! A Hairy Bilge Rat!
http://u-br.net http://www.abusar.org/FELIZ_2008.html
Cage The Elephant - "In One Ear" (cage the elephant)

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